Queria ficar ali para sempre, mas sabia que não era possível. Aliás, já tinham mencionado que a mudança era para breve, pelo que, eu vivia cada dia como se fosse o último. Em breve estaria de volta ao aviário, e calculava que a minha vida não estendesse por muito mais tempo, uma vez de regresso. A Pombinha tentava explicar o mais que podia, no tempo que ainda nos restava. Apresentou-me os outros animais, as outras “aves de capoeira”, chamou-lhes. Não pretendia que eu criasse laços de amizade com este pessoal, mas caso fosse transferida para uma quinta, em vez de um aviário, já sabia o que esperar.
Todos os dias, vinham buscar-me, para ser inspeccionada, e levar uma injecção. Todos os dias me despedia da Pombinha, porque não sabia se regressava. Até que realmente, um dia, não regressei. Fui colocada numa gaiola, em cima de uma carrinha de caixa aberta, juntamente com outras gaiolas. Apenas algumas tinham animais. A maioria estava vazia. Grande parte da viagem foi feita de noite. A noite, creio que foi a primeira noite em que vivi a experiência da noite. O céu estava escuro, cheio de luzinhas brilhantes. Não queria perder nada, mas o cansaço venceu-me. Adormeci. Apenas quando senti a luz a emergir, o que agora já sabia ser o sol a nascer, abri os olhos.
A paisagem não parecia real, parecia que uma história da Pombinha tinha-me escapado da imaginação. Estava do lado de fora. Fiquei confusa. Tudo o que nos rodeava tinha uma luz amarelo torrada e verde, tudo brilhava, A luz e brilho eram tão intensos, que mal conseguia manter os olhos abertos, ao fechá-los pouco mudava.
1 comentários:
Em certas fases da nossa vida parece que nos colocam em gaiolas, o que até lhes podíamos chamar de rotinas. Umas adoro, outras para bem da nossa sanidade mental e para a concretização dos nossos sonhos, exigem mesmo uma mudança.
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