Há Quinta

Aparição

«Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro. Uma lua quente de Verão entra pela varanda, ilumina uma jarra de flores sobre a mesa. Olho essa jarra, e escuto o indício de um rumor de vida, o sinal obscuro de uma memória de origens. No chão da velha casa a água da lua fascina-me. Tento, há quantos anos, vencer a dureza dos dias, das ideias solidificadas, a espessura dos hábitos, que me constrange e tranquiliza. Tento descobrir a face última das coisas e ler aí a minha verdade perfeita Mas tudo esquece tão cedo, tudo é tão cedo inacessível. Nesta casa enorme e deserta, nesta noite ofegante, neste silêncio de estalactites, a lua sabe a minha voz primordial.» FERREIRA, Vergílio - Aparição. Bertrand , 2003. ISBN 972-25-0251-4

Encontros imediatos



Não sei muito bem como tudo se processou, mas foi como se uma mão invisível tivesse pegado em nós, e nos tivesse colocado nas filas, porque muito sinceramente não me lembro de como fui parar ao fim de uma delas. Fiquei um pouco assustada, e enquanto todos avançavam para as capoeiras, a mim deu-me para recuar, até onde pude, ou seja, até que choquei com algo. Não precisei de me voltar para saber o que era, aliás, quem era. Petrifiquei. Penso que ele devia estar à espera de uma reacção minha, e eu queria muito voltar-me, mas faltava-me a coragem. Estava tão embrenhada a fantasiar com ele, que estremeci ao som da sua voz, «volta para a fila!» e não é que voltei, o mais rápido que consegui. Já quase todos tinham entrado. Subi as escadas, que me levavam à minha nova vida.

O Discurso


O burburinho vinha agora de dentro do grupo, pelos vistos não fomos os únicos a ouvir e tecer comentários sobre a situação. Tão embrenhadas estávamos nas tricas que não reparámos que os gansos circundavam todo o grupo de recém-chegados O meu coração disparou entre o medo e a ansiedade. Por um lado, senti-me presa, a sufocar. Aquelas aves ali à nossa volta a impedirem-nos de sair dali, a uma distância que considerava deveras intimidante, mas por outro lado, procurava aquele que me podia ser o dono do meu cárcere, se ele quisesse, bastava pedir. Mas não o conseguia ver. Enquanto o procurava, reparei que Gaspar e o bando, estavam à nossa frente. Aguardavam pelo nosso silêncio, o qual não tardou a aparecer, assim que o grupo se apercebeu de quem tínhamos à frente. Gaspar sorria, do seu lado direito estavam o Psico-pato e Jacó, à sua esquerda, Xica e ajudantes. Julieta, encontrava-se atrás do bloco. Há quanto tempo estariam ali, e quanto da nossa conversa ouviram? O ruído havia cessado há uns minutos, mas Gaspar continuava a sorrir. Inspirou, expirou, e começou o discurso:

«Muito bom dia, Amigos. É com um enorme prazer que os recebo na nossa Quinta. Antes de mais, porque sei que já passou um pouco da nossa hora, informo que o almoço será servido dentro de uns minutos. Um pouco mais de paciência é o que vos peço. Serei breve. Penso que já conhecem os meus ajudantes, que se encontram aqui a meu lado, mas caso não tenham tido ainda essa oportunidade, não faltarão outras, com certeza. Embora eu seja o responsável da Quinta, podem expor os vossos problemas, ou qualquer coisa que vos apoquente, à minha equipa. Têm plenos poderes para resolverem as vossas questões. Mas, tenho a certeza que não vão ter qualquer problema em ambientarem-se, e serão muito felizes aqui na Quinta. Esta quinta é muito cobiçada, sendo considerada uma das mais prestigiantes do País, pelo que deve ser respeitada. Bom, sem mais delongas, pois calculo que as vossas barrigas estejam já a dar horas. Agradeço que formem duas filas. Serão reencaminhados aos vossos aposentos, e logo de seguida para a sala de refeições. Muito obrigado e bem-vindos. Um grande bem-haja a todos!»


Não queria acreditar na atenção que dispensei à conversa da Natália. Perdi a noção do tempo. Natália era uma galinha muito bem informada. Intrigava-me o motivo que a levava a despejar esta informação toda connosco. Não nos conhece. Não sabe de onde viemos e quais as nossas intenções. O que pretende? O facto de nos passar as suas opiniões sobre os habitantes da quinta, não nos permite tirar as nossas próprias elações, e partimos para o conhecimento destas personagens já com algumas ideias pré-concebidas. Natália continuava a falar de Jacó - Jacó, cresceu assim, demasiado protegido, nunca sendo exposto a qualquer situação minimamente perigosa, e sendo sempre feita a sua vontade. – O meu esforço para me abstrair não estava a ser suficiente. Procurei focar a minha atenção noutro ponto, mas não havia onde. Estava tudo muito calmo. Demasiado calmo. O reboliço havia terminado sem darmos por isso.

Descendência (cont.)


O pato e o galo-mor, eram companheiros de longa data. Cresceram juntos na quinta e quando a Gaspar foi passado o título de galo-mor, pelo seu antecessor e pai, este transformou o pato no seu braço direito. Se por um lado o galo-mor depositava toda a sua confiança na gestão levada a cabo pelo pato, no sector masculino, a verdade verdadinha é que só conhecia o sector masculino através do pato, assim como o sector masculino só conhecia a obediência ao pato. Não respeitavam o galo-mor, e muito menos um franganote, aspirante a “more”.

Gaspar tentava há muito ter uma cria de sexo masculino que vingasse, mas sem sucesso. Julieta, o seu grande amor, tinha sido incapaz de lhe providenciar a desejada descendência. Muitas foram as pressões para destituir Julieta do seu posto, e tomar outra galinha como primeira-dama. Mas Gaspar não queria pensar nisso sequer. Até à última postura, havia que tentar. E assim foi. Numa das últimas posturas de Julieta, nasceu o franguito, Jacó de seu nome. Gaspar e Julieta ficaram radiantes. Julieta ainda pôs mais alguns ovos, mas nem tentou chocá-los. Para quê? Já tinha o que queria, agora só tinha tempo para o seu pequenito. E se algumas das irmãs que eclodiram ao mesmo tempo, se metesse com ele, por ser tão franzino, haveria um castigo.

Descendência


Pelo que percebi, o franguito era filho da Julieta, a derradeira cria. Julieta perdeu recentemente o posto de “Primeira Dama” da quinta, assim como a capacidade de pôr ovos. Ou vice-versa. Franguito é filho do "galo-mor", assim como todos os frangos e frangas que aqui nascem, dado que é este o único macho autorizado a procriar na quinta. Penso que tal directiva será de sua lavra, uma vez que não estou a ver os comuns mortais preocupados com os affairs das galinhas.

Desde que se tinha tornado "galo-mor" da quinta, Gaspar, de seu nome, nunca tinha tido descendência masculina. Há muito que só nasciam frangas na quinta. Os poucos ovos com frangos que eram postos e chocados, não chegavam sequer a eclodir.

Franguito veio quebrar o enguiço, e toda a esperança de uma nação galinácea, foi depositada neste ser. Seria uma espécie de Messias? Olhando aquela figurinha, sinceramente, não lhe auguro grandes feitos. Pode ser que me engane, quem sabe?

Na tentativa de colmatar a falta de traquejo do franguito, entra o “psicótico”. Há muito responsável pelo sector masculino da quinta, preparava-se agora para o treinar e passar-lhe o testemunho. Nem o frango estava preparado para ser rei, nem o pato para deixar de o ser…

Um frango


Antes de assimilar o que me dizia, olhei-a e percebi que era uma das galinhas que tinha viajado comigo. «Sabem, eu acho que não é hoje que almoçamos. Acho que só voltamos a comer quando nos derem ordem de soltura para podermos ir bicar por aí, e isso só quando este “circo” terminar. Pelo que percebi, o galo delegou no franganote e responsabilidade do sector masculino, mas quer o pato quer a Xica deveriam auxiliá-lo, mas olhando para este espectáculo, parece que nem um nem o outro o fizeram.» Olhei o “circo” com mais atenção e reparei que no meio dos quereladores, estava efectivamente um frango, acabadinho de sair do estatuto de pinto. A galinha que nos interpelou, chamava-se Natália, e pelos vistos, embora tivesse chegado ao mesmo tempo que eu, conhecia relativamente bem a quinta, porque continuou a fazer a actualização das notícias. Sim, realmente o que poderia melhorar o meu dia? Mexericos! Também é outra das minhas coisas favoritas. Ao menos ficámos a perceber alguma da dinâmica aqui da coisa.

Nem tudo são rosas


Estava Xica a meio do seu discurso de apresentação, quando as suas palavras foram completamente abafadas por um burburinhar que aparentemente teve início no sector masculino, mas pelo crescendo estimava-se a sua chegada ao sector feminino muito em breve. Julieta, juntamente com Xica e companhia limitada, dirigiu-se ao burburinho, na tentativa de minimizar o impacto perante as noviças. Tarde demais. Um pato, completamente fora de si, entrou no recinto aos gritos, dirigindo a sua fúria à Xica. Esta, tentou convencê-lo a entrar na capoeira, acalmar-se, e parar com o espectáculo que nos estava a proporcionar, mas sem sucesso algum. Pelos vistos, o pato gostava de público, porque não ficou minimamente inibido com a nossa presença, eu diria até que lhe inflamava o discurso, só de nos ver. Afinal qual o motivo de todo este espectáculo? Aparentemente um mal-entendido. O pato “psicótico”, ou “psico-pato”, chamemos-lhe assim, veio pedir a Xica, responsabilidades pelo abandono e falta de acompanhamento do sector masculino.

Antes de mais, aqui e neste momento, senti a necessidade de fazer uma pausa, um intervalo. Uma das questões que me assaltava, era por que raio era um pato que mandava no sector masculino dos frangos? E quantos frangos existiam no sector masculino? Se não põem ovos qual a finalidade da sua estada ali? E porque razão gritava o “psico-pato” com a Xica? Chega! Não quero saber, não vou perder mais um minuto da minha vida a pensar nisto! Estava eu ferozmente a absorver estas minhas decisões, quando uma galinha se aproximou do grupo onde me encontrava e sussurrou…

Xica


Estava eu imersa nestes meus pensamentos, quando algo que trouxe de volta à realidade. Xica.

Xica percorria as fileiras, mostrava-se afável, até maternal. Falou com todas nós, uma por uma. Enquanto ela falava com algumas das minhas companheiras, lembrei-me de uma história que a Pombinha me tinha contado, sobre três porcos e um lobo pouco recomendável. Olhei de relance para a Xica e quase que vi o lobo por baixo das penas.

E foi assim que apareceu, matreira, à minha frente. Um arrepio gelado percorreu-me o corpo. Senti um tal tremor, que pensei que os meus ossinhos se partiam, mas mantive-me imóvel. Abriu a boca. As palavras de boas-vindas que bailavam na sua boca, pareciam verdadeiras, mas era esse o seu trabalho, deixar-nos confortáveis e descontraídas. Apresentou-se, eu apresentei-me. Perguntou-me de onde vinha, e depois, confortou-me novamente dizendo que a vida na quinta era uma bênção, e que eu seria muito feliz ali. Por um momento, muito pequenino, apeteceu-me abraçá-la e cobri-la de beijos. Mas, aquele arrepio que senti novamente quando tal ideia me atravessou a mente, impediu-me de o fazer. Tentei esboçar um sorriso. Ela também sorriu e passou à próxima “vítima”. Xica continuou as apresentações, galinha a galinha, franga a franga, e quando finalmente terminou, fez um pequeno discurso. Informou-nos que só tínhamos a beneficiar com a nossa estadia na Quinta, tudo nos seria dado. Comida, água, aposentos limpos, e apenas nos pediriam uma coisa em troca: os nossos ovos. Toda a produção da quinta, abastecia algumas instituições de caridade. Os ovos e as hortaliças produzidas na quinta serviam esse propósito, mas nenhum animal seria abatido com intenção de servir esse mesmo propósito. A quinta subsistia de doações de pessoas que tentavam a todo o custo melhorar as condições de vida dos animais nos aviários, matadouros, etc., e que quando tudo falhava e conseguiam resgatar alguns animais, traziam-nos para as diversas quintas que existiam à semelhança desta.

Primeiras impressões


Foram feitas as apresentações. A “castanha-sem-penas-no-pescoço” chamava-se Xica. Segundo percebi, estava encarregue do sector feminino da capoeira. Qualquer situação fora da rotina, era reportada à Xica. Qualquer problema que tivéssemos, era com a Xica que devíamos falar. As outras duas, cujo nome não apanhei, eram os olhos e os ouvidos de Xica, já que a omnipresença não era uma das suas muitas virtudes.

Não sei porquê, não costumo ser assim, nem acho justo julgar alguém tendo por base apenas a primeira impressão, mas não gostei destas três figuras. Não me fizeram mal nenhum, mas tive um pressentimento, um aperto no coração, dificuldade em respirar, quando as vi pela primeira vez. Todavia, vou deixar os julgamentos para depois. Sinto que o meu coração e a minha cabeça entraram em conflito, e não me apetece abraçar esta guerra por agora. Não quero.

Neste momento, estávamos só galinhas e franguitas. Os frangos já tinham sido recambiados para o sector masculino. Pelos vistos, a segregação chegou ao mundo maravilhoso da Quinta.

Julieta


Chegamos a um terreiro onde estavam mais galinhas e frangos, alinhados. Aparentemente faltávamos nós, o fez com que tudo se atrasasse, nomeadamente o almoço. Este atraso, ao qual éramos totalmente alheios, dado que afinal a “voz” não nos tinha deixado no local certo, valeu-nos umas boas inimizades.

Uma voz aguda captou-me a atenção. Uma galinha castanha acenava na nossa direcção. Deu-nos as boas vindas. Já devia ter almoçado, era a única explicação para aquela boa disposição. Quando reparei, já não havia sinal dos gansos. Estava tão distraída com os comentários corrosivos dos nossos parceiros de fila, e por oposição com o excessivo bom humor que a galinha castanha tinha, que nem dei pela sua retirada. Bolas. Quando voltei à realidade, reparei que a galinha castanha estava a discursar. Chamava-se Julieta, era a responsável por mostrar o local aos recém-chegados, e explicar um pouco da rotina e especialmente da hierarquia da quinta. Novamente tive de fazer um esforço por parecer minimamente interessada, e estava. Não queria parecer ingrata, uma vez que não o era, agradecia do fundo do coração esta oportunidade que me era dada, de viver numa quinta, e conhecer uma realidade tão diferente da que conheci no aviário, mas não conseguia deixar de pensar naquele ganso, enorme, cinzento e sisudo.

Julieta pediu-nos para aguardar um pouco e entrou por uma portinhola. Passados alguns minutos saíram três galinhas, juntamente com a Julieta. Havia uma, cuja cor era igual à de Julieta, mas tinha a particularidade de não ter penas no pescoço. As outras duas, tinham penas no pescoço, e eram de uma cor…indefinida. Pareciam pretas, mas ao mesmo tempo, azuis ou verdes, não consegui perceber. O que percebi é que se moviam exactamente da mesma maneira, como se uma vara invisível as atravessasse às três. Uma preta de cada lado, ao centro a castanha.

A caminho


A velocidade era a meu ver, exagerada. Não nos mexíamos havia bastante tempo, estávamos entorpecidos, mas francamente, seguíamos tão apertados no meio dos gansos, que mesmo que quiséssemos cair, não corríamos esse risco.
Embora tentasse seguir cegamente os gansos, era um esforço demasiadamente grande para mim, ignorar o que estava para além dos gansos, não pude deixar de ir observando o que passava por nós, embora ao mesmo tempo tentasse concentrar-me nos gansos. Complicado.

A azáfama era grande, todos os tipos de animais circulavam por ali, uns para um lado, outros para o outro. Alguns paravam à nossa frente e observavam-nos, mas logo seguiam caminho, caso contrário, eram atropelados pela nossa comitiva. Não fazia a mínima ideia do que fazer. Realmente se não tivesse como único objectivo seguir os gansos, estaria totalmente perdida. Olhei para um lado e depois para o outro, mas nada me era familiar. Decidi prestar atenção ao que os animais diziam, podia ser que alguns da minha espécie, mencionassem algo minimamente familiar. A algaraviada dificultava a concentração, mas fiz um esforço. Passaram por nós, duas jovens galinhas a falar da hora de almoço que se aproximava. Dos gansos, nem uma palavra. Uma das minhas parceiras, uma galinha que aparentava ter mais idade que as restantes ainda tentou falar com eles, mas ignoraram-na completamente. Eram dos mais malcriados que conheci até ao momento, este gansos. Enchi-me de coragem e olhei-os primeiro de soslaio, mas à minha esquerda encontrava-se o maior ganso que vira até hoje. Bem, contando com estes cinco, na realidade só tinha visto outro, quando estava no quintal da recuperação, mas de todos este era verdadeiramente grande. Virei a cabeça literalmente para o lado para o admirar. Ele percebeu e olhou-me. Pensei que morria ali mesmo. Senti as pernas a ficarem bambas, um arrepio percorreu o meu corpo, sentia um frenesim a assaltar-me juntamente com um pânico terrível. Era uma ave linda, linda, linda…não consigo arranjar palavras para a descrever. Era verdadeiramente majestoso. O ganso abriu as asas e gritou exasperado! «Vira-te para a frente!» Sei que o meu corpo se mexeu muito antes de a minha cabeça lhe dar tal instrução. Eu continuava perplexa, a admirá-lo, mas virei-me para a frente, como ele ordenou. Aliás, naquele momento acho que teria executado qualquer instrução que ele me desse.

A Quinta


Mantive os olhos firmemente fechados. Não queria ver. Senti pegarem na gaiola onde me encontrava, tudo abanava. Eu era atirada contra as paredes da gaiola até que resolvi fincar as patas no chão gradeado. Terão de fazer melhor do que isto para me fazerem abrir os olhos novamente. Já não me assusto facilmente, ou, pelo menos dito assim quase me fazia acreditar, pensei. De repente tudo parou, e, embora a curiosidade quase comesse a galinha, mantive-me firme. Não abri os olhos. Mas, uma voz fez-me abrir os olhos…Chamava-me docemente. Não resisti e olhei “a voz” nos olhos. Abriu a gaiola, ajudou-me a sair e pronto. Procurei o aviário, os corredores, nada. A “voz” fez-me uma festa, sorriu e levou a gaiola. Fiquei ali, sem saber para onde ir…Parei de pensar, não adiantava. Decidi observar o que me observava. Não estava só. Éramos quatro, que a “voz” tinha deixado ali, mas aparentemente nenhum de nós sabia o que fazer. Estava muito compenetrada nesta minha missão de observação, quando levei um ligeiro encontrão, e uma voz gritou «sigam-me!». Não prestei muita atenção, embora o encontrão me tivesse deixado um pouco alterada. Novamente a voz disse «sigam-me», o tom autoritário imobilizou-me. Só podia ser para nós, pensei. Olhei para trás, e vi um bando de gansos. Não demorou muito a percebermos o que havia a fazer. O bando de gansos cercou-nos, e o que tomava a dianteira vociferou novamente: «sigam-me!». Juntámo-nos dentro do círculo que os gansos formaram e seguimos o da frente.

Mudanças


Queria ficar ali para sempre, mas sabia que não era possível. Aliás, já tinham mencionado que a mudança era para breve, pelo que, eu vivia cada dia como se fosse o último. Em breve estaria de volta ao aviário, e calculava que a minha vida não estendesse por muito mais tempo, uma vez de regresso. A Pombinha tentava explicar o mais que podia, no tempo que ainda nos restava. Apresentou-me os outros animais, as outras “aves de capoeira”, chamou-lhes. Não pretendia que eu criasse laços de amizade com este pessoal, mas caso fosse transferida para uma quinta, em vez de um aviário, já sabia o que esperar.

Todos os dias, vinham buscar-me, para ser inspeccionada, e levar uma injecção. Todos os dias me despedia da Pombinha, porque não sabia se regressava. Até que realmente, um dia, não regressei. Fui colocada numa gaiola, em cima de uma carrinha de caixa aberta, juntamente com outras gaiolas. Apenas algumas tinham animais. A maioria estava vazia. Grande parte da viagem foi feita de noite. A noite, creio que foi a primeira noite em que vivi a experiência da noite. O céu estava escuro, cheio de luzinhas brilhantes. Não queria perder nada, mas o cansaço venceu-me. Adormeci. Apenas quando senti a luz a emergir, o que agora já sabia ser o sol a nascer, abri os olhos.

A paisagem não parecia real, parecia que uma história da Pombinha tinha-me escapado da imaginação. Estava do lado de fora. Fiquei confusa. Tudo o que nos rodeava tinha uma luz amarelo torrada e verde, tudo brilhava, A luz e brilho eram tão intensos, que mal conseguia manter os olhos abertos, ao fechá-los pouco mudava.

Convalescença e...


Não sei quantos anos tinha a Pombinha, nem há quantos estava no aviário. Perguntei-lhe uma vez, mas ela não soube responder. O tempo não era importante enquanto viveu na quinta. E agora, um momento no aviário era equivalente à postura de pelo menos cinco ovos na quinta. Havia, recentemente, deixado de o fazer. Como era velha demais para ser vendida para abate, foi deixada numa gaiola, com alguma ração e água. De quando em vez, alguém se lembrava de mudar a água e colocar comida, mas quando o faziam, ela estava tão fraca, que quase não tinha forças para comer. A sujidade era tanta à sua volta, que ainda dificultava mais o acesso à comida. Eu desistiria, mas a Pombinha não. Fazia de cada ida à comida uma missão. Sabia que tinha de comer e beber para se manter viva, e era isso que fazia. Ou conseguia comer, ou morreria a tentar fazê-lo. Mas desistir nunca. Em memória de seus pais. Foi nessa gaiola que a encontraram, quase sem vida. E só devido à sua determinação, posso agora enfatizá-lo: quase.

Estávamos bastante melhores. Um dia enquanto me observavam, ouvi-os. Queriam levar-nos para outro local, mas não percebi de que tipo. Apenas pensei que tinha acabado tudo. Ia regressar ao aviário. E agora tudo iria ser diferente, mais doloroso, uma vez que agora sabia que existiam lugares onde uma galinha como eu podia ser feliz. Bom, ao menos traria diversidade aos meus sonhos, tentei convencer-me.

Os dias sucediam-se. Estávamos cada vez melhor. Estávamos mais fortes, mais alegres, vendíamos saúde. Quem diria. A Pombinha contava-me a sua vida, como se fizesse parte de uma missão transmitir-me algum conhecimento sobre o mundo lá fora. Foi assim que não fiquei assustada quando pus o meu primeiro ovo. Comecei por ter muitas dores. Num momento tinha calor, no outro estava gelada. A Pombinha ajudou-me em todo o processo. Explicou-me o que estava a acontecer, e o que iria acontecer. Posso dizer que se não fosse assim teria morrido de susto. Foi muito difícil. Sentir o ovo a formar-se dentro de mim, quase 1 dia e parte da noite, quando chegou a madrugada não aguentava mais. Tinham de me tirar aquilo! Mais uma vez valeu-me a Pombinha. É que saber o que esperar e viver a experiência, são duas coisas distintas. Pensava que estava preparada, mas não estou. Mais uma vez gritei: Tirem-me isto! A Pombinha entoou uma melodia para me acalmar. Pediu-me para respirar calmamente e fazer força quando sentisse que não aguentava mais. Está na hora, pensei. Fiz força, muita força, e o ovo saiu. Deixei-me cair no chão. A Pombinha obrigou-me a levantar. Deveria andar um pouco depois da expulsão do ovo. Assim fiz. Andei à volta da gaiola. Senti-me a coisa mais estúpida de todos os tempos.

Quando ouviram barulho, aqueles que cuidavam de nós, vieram ver o que se passava. Viram o ovo e deram pulos de alegria. Confesso que não partilhei do entusiasmo deles. Saber que de agora em diante ia passar por aquela experiência quase todos os dias, deixava-me furiosa. Nem no meu corpo mandava! Mais uma vez, valeu-me a Pombinha. Explicou-me que aquela sensação só durava nas primeiras posturas, depois seria tão natural como andar ou comer. Levaram o ovo. O meu primeiro. Ainda bem, o que faria eu com ele? Mas não pude evitar sentir um aperto no meu coração. Afinal era um pedaço de mim que eles levavam…e para onde? Demorou algum tempo até a Pombinha explicar-me porque motivo os humanos queriam os nossos ovos. Confesso que esperava algo do género. Animais!
Passado algum tempo, deixamos de passar o dia inteiro na gaiola. Só nos colocavam lá para dormir. Durante o dia ficávamos num quintal, pequeno mas soalheiro. Era agradável. E ajudou a visualizar alguns dos ensinamentos da Pombinha. As cores…As cores deixavam-se sem palavras. O verde da vegetação, o azul do céu, tudo era novo. Os sons de outros animais iguais a nós, diferentes de nós. Parecia uma tontinha de bico aberto a olhar em à volta. Sentia-me eufórica, e parva, ao mesmo tempo.

Pombinha


Quando nasceu, tinha uma penugem de um amarelo quase branco, o que fazia lembrar uma pomba. Daí a sua mãe ter-lhe chamado Pombinha. Viviam num sítio a que chamou de quinta. Com um pai, uma mãe e vários irmãos. Embora existissem outros animais na quinta, eles eram os únicos da sua espécie. Brincavam o dia todo, esgravatavam a terra, apanhavam sol, abrigavam-se da chuva, nunca lhes faltou comida, e tinham espaço, muito espaço.

Tentei imaginar, mas era demais. Não conseguia imaginar o espaço, quanto mais o sol e a chuva e outros animais diferentes a conviverem juntos. Senti que a minha existência era algo entorpecida até este momento. Até me falarem de algo que existia, embora fosse muito difícil materializar as palavras na minha imaginação. Como podia fazê-lo quando apenas conhecia o corredor? Era surreal. Às vezes ainda pensava que a Pombinha tinha perdido o juízo de vez. As histórias que ela contava não passavam de histórias. Outras vezes, era mais fácil acreditar. Porque não? Ao menos havia algo que me alegrava o espírito. A história seguinte. Porque havia sempre mais uma.

Um dia, tudo mudou na vida de Pombinha. Os pais já tinham falecido, alguns irmãos também. Tinham apanhado uma gripe. Apenas ela e duas irmãs sobreviveram. Continuaram com a rotina que os pais lhes tinham ensinado. Levantavam-se cedo, punham os ovos, tal e qual como se a família estivesse com eles. Certo dia veio um carro branco, com luzes azuis e vermelhas buscar a sua dona. Foi a última vez que a viram. O dono nunca mais foi o mesmo. Desleixou-se, e desleixou a quinta. Elas punham os ovos, mas ninguém os tirava. Começaram a colocar os ovos um pouco por toda a parte, uma vez que os ninhos cheiravam muito mal. Nunca mais foram alimentadas devidamente, comiam aquilo que encontravam e que parecesse minimamente comestível. Um dia, vieram os filhos do dono e levaram-no. A pouco e pouco foram levando os animais, e foi assim que terminou no aviário. Nunca mais viu as suas irmãs, nem sabe o que lhes aconteceu. Como punha bastantes ovos, não estava connosco nos corredores. Mesmo que estivesse, dificilmente teria trocado duas palavras com ela. Nunca as troquei com outros.

Luz


Certo dia, apareceu um humano diferente. Não era nenhum daqueles que nos vigiava. Começou a andar por entre nós, a pegar-nos, e gritou muito. Só pensei, é agora. É agora que tudo vai acabar e vou poder sonhar para sempre. Enfiei a cabeça dentro da asa e esperei. Não me preocupei quando o ruído aumentou, e me empurraram. Não tinha forças para me mexer. Fui espezinhada. Não me importei. Só queria que tudo acabasse. Nem uma patita sacudi quando me puxaram pelas asas. Vi os meus companheiros a serem metidos em gaiolas e essas gaiolas colocadas em camionetas. Fui colocada numa caixa, juntamente com outros que se encontravam tão mal quanto eu. Pensei que era o fim. Assim mesmo. Depois pensei, que se lixe. Quero lá saber. Quero sonhar, e voltei a colocar a cabeça na asa. Ouvi um barulho ensurdecedor, e senti uma vibração por baixo do local onde nos encontrávamos. Nunca pensei que o fim fosse assim. Pensei que fosse mais calmo.

De repente a escuridão saiu e a luz invadiu-nos. Voltaram a pegar-me nas asas. Entrei num local estranho. Fui colocada numa gaiola, juntamente com uma companheira. Não percebi muito bem como se passaram os dias e quantos. Sei que quando ali cheguei, não me mexia. Deram-me de comer, limparam-me. Fui ficando mais forte. Todos os dias algo mudava em mim. As penas começaram a crescer, as forças voltaram às pernas. Até algo parecido com um papo. A minha companheira também melhorava a olhos vistos. Era bastante mais velha que eu. Quando comecei a melhorar, dei por mim a preocupar-me com esta criatura. A sua recuperação foi mais lenta, devido à sua avançada idade. Fiz questão que ela fosse sempre a primeira a comer. Posso ter pouca experiência de vida, mas recordo aqueles que diziam que nalguns corredores, os mais velhos e os mais novos se alimentavam primeiro. Pareceu-me bem. Correcto. Quando começou a melhorar, começou também a contar um pouco da sua vida, uma vez que tinha tido uma antes do aviário. Chamava-se Pombinha.

Torpor


Senti o sol a aquecer-me o corpo. Levantei a cabeça. Estava a nascer o dia, o sol espreitava agora entre as montanhas. Era maravilhoso. Vendo a paisagem verdejante, ainda a pingar orvalho, que reflectia os raios de sol… simplesmente maravilhoso. Por breves momentos quase esqueci quão terrível fora a minha vida até aqui. Quase. Assim que me permitia um momento de felicidade, o passado trespassava a minha mente como uma lança, como a dizer que tudo pode acabar, assim como começou.


A minha vida, não me lembro bem quando e onde começou, porque quando dei pela minha existência, já habitava aquele local inóspito. Vivíamos ao monte, comíamos, dormíamos e defecávamos no mesmo local. Quando não havia comida que chegasse para todos, havia os que comiam os dejectos. Os deles, e os dos demais. Nunca consegui fazê-lo. Talvez por esse motivo nunca tenha atingido um peso considerável. Creio que a vida nos aviários não é agradável, mas no nosso era verdadeiramente deplorável. A companhia não era das melhores. Mas, eu também não me considerava boa companhia. Não me lembro de nenhum companheiro que não conhecesse desde que me conheço. A nossa existência resumia-se ao corredor. Não tínhamos espaço para nos mexermos. A minha vida consistia em comer, sentar, dormir e sonhar. Sonhava muito. Creio que sonhar era o que me fazia resistir, o que me fazia chegar ao fim de um dia e começar outro. Isto, quando conseguia fazer essa distinção. Os meus sonhos eram fantásticos, claro, mas retratavam a realidade que conhecia. O aviário, apenas o aviário. Num dia sonhava que os corredores estavam quase vazios e eu conseguia andar e saltitar. Noutro, conseguia raspar a terra. Era uma alegria. Mas depois acordava. Nunca tinha visto um dia a nascer. No aviário havia o momento da luz e o da escuridão. Não fazia ideia como se passava de um para o outro.

Quando acordava, ficava tristíssima. Só desejava voltar a dormir, mas era impossível. O barulho era ensurdecedor. As discussões, os confrontos. Sempre que chegava a comida, começava. Todos se levantavam e se dirigiam aos comedouros. Obviamente que o espaço não chegava para todos. Alguns companheiros que tinham migrado entre corredores, na tentativa de encontrar algo mais amplo, contavam que existiam corredores organizados hierarquicamente, onde os mais velhos e os mais novos se alimentavam primeiro, com locais definidos para dormir, para as latrinas, enfim. O nosso não. O nosso corredor era anarquista. Não existiam regras de espécie nenhuma. Cada um fazia como queria e como lhe convinha. Nem todos conseguíamos comer todos os dias. Havia os que lutavam pela comida, e outros como eu, que simplesmente deixavam passar. Amanhã, como, pensava. Mas os amanhãs nunca chegavam. Quanto mais fracos ficávamos, mais impossível se tornava a tarefa de nos alimentarmos. Aqueles que optavam por comer os dejectos tornavam-se completamente alucinados. Faziam movimentos estranhos com a cabeça, outros fitavam o chão. Eu só queria dormir e sonhar. Queria sonhar que não estava ali, mas não sabia o que poderia haver para além daquele sítio. Como não me alimentava, fui enfraquecendo, as penas começaram a cair. Fiquei doente. Não fui só eu, outros companheiros também adoeceram. Já não tínhamos sequer força nas pernas para nos levantarmos. Eu só desejava dormir e sonhar, se não voltasse a acordar, não havia problema. Estava melhor nos sonhos, tinha muita comida, espaço e sentia-me limpa.

A vida das galinhas


A vida das Galinhas

As galinhas têm sido consideradas como uma importante fonte de alimento desde há séculos. As primeiras referências a galinhas domesticadas surgem no séc. VII a.C., em cerâmicas coríntias. A introdução desta ave como animal doméstico surgiu provavelmente na Ásia. Apesar de terem sido os Romanos a desenvolver a primeira raça diferenciada de galinhas, os registos antigos mostram a presença de aves selvagens asiáticas na China desde 1400 a.C. Da Grécia antiga, as galinhas espalharam-se pela Europa e os navegadores polinésios levaram estas aves nas suas viagens de colonização do Oceano Pacífico, incluindo a Ilha da Páscoa. A proximidade ancestral com o homem permitiu o cruzamento destinado à criação de diversas raças, adaptadas às diferentes necessidades.

Factos sobre as galinhas,

As galinhas, ao contrário da maior parte das aves, não voam. Isso deve-se a diversos factores, entre os principais: não possuírem o músculo peitoral desenvolvido com mioglobina, grande peso corpóreo, e também que, quando tentam alçar voo, sentem cãibras.

Estas aves são animais curiosos e interessantes, tão inteligentes como, por exemplo, gatos, cães, ou macacos. São muito sociáveis e gostam de passar os seus dias todas juntas, a arranhar o chão com as suas patas à procura de alimento, fazer a sua higiene com banhos de terra, empoleirar-se em árvores e apanhar sol.

As galinhas são aves precoces. Por exemplo, as mães galinhas cacarejam para os seus filhos ainda dentro do ovo e eles cacarejam em resposta à sua mãe! A inteligência e adaptabilidade das galinhas torna-as especialmente vulneráveis aos aviários porque, ao contrário da maior parte das aves, os filhotes das galinhas podem sobreviver sem as suas mães e sem o conforto do ninho. Saem do ovo ansiosos por explorar o mundo e prontos para conhecer a vida.

A vida das galinhas de aviário,

Actualmente, mais de 9000 milhões de galinhas que, por ano, só nos EUA, são criadas em aviários para fornecer ovos e carne para consumo humano, nunca terão a oportunidade de fazer nada de natural para elas. Nunca sequer conhecerão os seus pais, muito menos terão a sorte de serem criadas por eles. Nunca poderão tomar banhos de terra, sentir o sol no seu corpo, respirar ar fresco, empoleirar-se em árvores, ou construir os seus ninhos.

Os frangos de "churrasco",

As galinhas criadas para consumo, chamadas "churrasco" pela indústria aviária, passam toda a sua vida em aviários sem condições com centenas de milhar de outras aves, onde o pouco espaço disponível e o confinamento levam a surtos de doença. São criadas e drogadas para crescerem tão rápido, que as suas pernas e os seus orgãos não são capazes de acompanhar esse crescimento, o que muitas vezes lhes provoca ataques cardíacos, insuficiência de orgãos e deformidades das suas pernas. Devido ao seu excesso de peso, muitas ficam tão aleijadas que morrem por nem sequer conseguir chegar à água para beber. Quando chegam às 6 ou 7 semanas de idade, são enjauladas e metidas em camiões para abate.

Os ovos,

As aves exploradas pelos seus ovos, chamadas poedeiras, vivem juntas em jaulas de arame, onde nem sequer têm espaço para mexer as asas. As jaulas são colocadas umas sobre as outras, e os excrementos das galinhas que estão em cima caem constantemente sobre as que estão em baixo. A estas galinhas cortam parte dos seus bicos extremamente sensíveis, para que não se debiquem umas às outras, o que acontece devido à frustração de viverem aprisionadas. Quando os seus corpos estão exaustos e a sua produção de ovos diminui, são enviadas para abate, geralmente para se tornarem caldo de galinha, ou comida para cão e gato, porque a sua carne está demasiado maltratada para se poder usar para outros fins.

Os pintainhos machos, das galinhas que são usadas para procriação, por não poderem dar ovos e por não terem carne tenra como a das fêmeas, são mortos. Todos os anos, mais de 100 milhões destas aves jovens são moídas vivas ou atiradas para sacos para morrerem sufocadas.

O transporte e abate das galinhas,

As galinhas são enfiadas em pequenas gaiolas e metidas em camiões para abate, debaixo de todo o tipo de intempéries. Centenas de milhões destas sofrem por asas e pernas partidas devido à brutalidade com que são manuseadas, e milhões delas morrem de stress na viagem.

No matadouro, as suas pernas são metidas numa espécie de algemas (as aves ficam presas de pernas para o ar), as suas gargantas são cortadas, e são depois metidas em água a ferver para que larguem as penas. Por não terem leis que as protejam (as aves não estão incluídas no Acto de Métodos Humanos de Morte), a maior parte das galinhas ainda está consciente quando lhes cortam a garganta e o corpo, e muitas são escaldadas ainda vivas depois de terem passado pelo corte de garganta.

Referências:

http://goveg.com/factoryFarming_chickens.asp