Estava eu imersa nestes meus pensamentos, quando algo que trouxe de volta à realidade. Xica.
Xica percorria as fileiras, mostrava-se afável, até maternal. Falou com todas nós, uma por uma. Enquanto ela falava com algumas das minhas companheiras, lembrei-me de uma história que a Pombinha me tinha contado, sobre três porcos e um lobo pouco recomendável. Olhei de relance para a Xica e quase que vi o lobo por baixo das penas.
E foi assim que apareceu, matreira, à minha frente. Um arrepio gelado percorreu-me o corpo. Senti um tal tremor, que pensei que os meus ossinhos se partiam, mas mantive-me imóvel. Abriu a boca. As palavras de boas-vindas que bailavam na sua boca, pareciam verdadeiras, mas era esse o seu trabalho, deixar-nos confortáveis e descontraídas. Apresentou-se, eu apresentei-me. Perguntou-me de onde vinha, e depois, confortou-me novamente dizendo que a vida na quinta era uma bênção, e que eu seria muito feliz ali. Por um momento, muito pequenino, apeteceu-me abraçá-la e cobri-la de beijos. Mas, aquele arrepio que senti novamente quando tal ideia me atravessou a mente, impediu-me de o fazer. Tentei esboçar um sorriso. Ela também sorriu e passou à próxima “vítima”. Xica continuou as apresentações, galinha a galinha, franga a franga, e quando finalmente terminou, fez um pequeno discurso. Informou-nos que só tínhamos a beneficiar com a nossa estadia na Quinta, tudo nos seria dado. Comida, água, aposentos limpos, e apenas nos pediriam uma coisa em troca: os nossos ovos. Toda a produção da quinta, abastecia algumas instituições de caridade. Os ovos e as hortaliças produzidas na quinta serviam esse propósito, mas nenhum animal seria abatido com intenção de servir esse mesmo propósito. A quinta subsistia de doações de pessoas que tentavam a todo o custo melhorar as condições de vida dos animais nos aviários, matadouros, etc., e que quando tudo falhava e conseguiam resgatar alguns animais, traziam-nos para as diversas quintas que existiam à semelhança desta.
0 comentários:
Enviar um comentário