Certo dia, apareceu um humano diferente. Não era nenhum daqueles que nos vigiava. Começou a andar por entre nós, a pegar-nos, e gritou muito. Só pensei, é agora. É agora que tudo vai acabar e vou poder sonhar para sempre. Enfiei a cabeça dentro da asa e esperei. Não me preocupei quando o ruído aumentou, e me empurraram. Não tinha forças para me mexer. Fui espezinhada. Não me importei. Só queria que tudo acabasse. Nem uma patita sacudi quando me puxaram pelas asas. Vi os meus companheiros a serem metidos em gaiolas e essas gaiolas colocadas em camionetas. Fui colocada numa caixa, juntamente com outros que se encontravam tão mal quanto eu. Pensei que era o fim. Assim mesmo. Depois pensei, que se lixe. Quero lá saber. Quero sonhar, e voltei a colocar a cabeça na asa. Ouvi um barulho ensurdecedor, e senti uma vibração por baixo do local onde nos encontrávamos. Nunca pensei que o fim fosse assim. Pensei que fosse mais calmo.
De repente a escuridão saiu e a luz invadiu-nos. Voltaram a pegar-me nas asas. Entrei num local estranho. Fui colocada numa gaiola, juntamente com uma companheira. Não percebi muito bem como se passaram os dias e quantos. Sei que quando ali cheguei, não me mexia. Deram-me de comer, limparam-me. Fui ficando mais forte. Todos os dias algo mudava em mim. As penas começaram a crescer, as forças voltaram às pernas. Até algo parecido com um papo. A minha companheira também melhorava a olhos vistos. Era bastante mais velha que eu. Quando comecei a melhorar, dei por mim a preocupar-me com esta criatura. A sua recuperação foi mais lenta, devido à sua avançada idade. Fiz questão que ela fosse sempre a primeira a comer. Posso ter pouca experiência de vida, mas recordo aqueles que diziam que nalguns corredores, os mais velhos e os mais novos se alimentavam primeiro. Pareceu-me bem. Correcto. Quando começou a melhorar, começou também a contar um pouco da sua vida, uma vez que tinha tido uma antes do aviário. Chamava-se Pombinha.
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